A bolha do PS, da gerigonça e do Governo
A campanha eleitoral está á porta. A geringonça preparasse para terminar a primeira coligação de esquerda em tempos de democracia. Os partidos que fizeram parte desta solução governativa vão começar a chamar a si os louros do mérito nas medidas populares e a trocar culpas do muito que ficou por fazer. Certo é que são poucos argumentos que demonstram que os partidos vivem nesta realidade, e muitos os que demonstram que vivem numa espécie de país á parte .
Os portugueses, excepção de alguns, continuam a viver da mesma maneira e com as mesmas dificuldades que viviam há quatro anos. Na verdade, para o português comum pouco ou nada mudou. O código de trabalho continua a privilegiar o empregador. Para uma pasta onde é exigido uma firmeza na mesa das negociações, António Costa escolheu a cara da incompetência no que toca á melhoria das relações laborais. Vieira da Silva é uma fraca figura de ministro, incapaz de substituir, a sério, duas centrais sindicais antagónicas no seu modelo de pensamento e aos desejos de confederações patronais. Se há CGTP muito se pode acusar por a sua postura de abandono das negociações ou intransigência, a UGT, que é totalmente desconhecida a sua ligação forte ao sector privado, tem funcionado como confederação patronal. Os acordos na concertação social são, por norma, penalizadores para os trabalhadores, e a UGT tem um cunho nessas penalizações. Por tudo isso, e principalmente por ser o PS governo, estamos no mesmo patamar quanto à degradação das relações laborais, sem que se vislumbre uma mudança capaz de devolver aos trabalhadores do sector privado melhor qualidade no trabalho.
O país da maravilhas que o PS faz questão de falar na página oficial, usando um crescimento de rendimentos dos trabalhadores por conta de outrem, demonstra a facilidade com que um partido político inebriado nos resultados se consegue tornar vítima dele mesmo. Só por eleitoralismo vaidoso o PS pode publicitar algo que não faz parte da realidade de grande maioria dos trabalhadores por conta de outrem. Apesar de um aumento substancial do salário mínimo, talvez o maior aumento em apenas uma legislatura, ainda está longe de conseguir preencher as necessidades básicas de milhares de trabalhadores.
Um aumento de salário que não se verificou apenas financeiramente, também o número de trabalhadores que beneficiam do mesmo sofreu um aumento significativo. Num pais com cada vez menos activos, o número de trabalhadores a receber o salário mínimo atinge os 20,4%. E se isso já era preocupante para a sustentabilidade da Segurança Social, mais preocupante é saber que outra grande fatia dos salários pagos no sector privado, também no público, não está longe dos valores do salário mínimo. Muitas empresas optam por aumentos muito tímidos, enquanto outras mantêm níveis salariais há margem do mínimo. Um dos exemplos é as empresas de distribuição onde os salários entre um trabalhador com 20 anos de antiguidade e um trabalhador com 20 dias pode ser apenas umas dezenas de euros de diferença. Enquanto os salários dos novos trabalhadores são actualizados conforme o salário mínimo, os antigos trabalhadores vivem de "compensações" tímidas que variam entre os 2,5€ e os 12€. Apesar de muitas saírem da orla do salário mínimo, não os deixa muito longe do mesmo.
Tal como os trabalhadores do sector da distribuição, muitos são os trabalhadores que cada vez mais vêm o seu salário equiparado ao salário mínimo, mesmo quando os anos de antiguidade já são longos e penalizadores.
Um salário é baixo, e para uma grande fatia da população activa é incapaz de dar uma resposta às necessidades básicas, como por exemplo a habitação. O valor assombroso, chegando mesmo a ser pornográfico, das rendas em Lisboa e no Porto, que se vai alastrando para outras cidades, é um exemplo que a pasta da habitação não foi tratada devidamente. Não vale a pena tecer acusações ao anterior executivo quando este se imiscui de resolver este problema. É impossível uma família cujo agregado familiar tenha como base dois salários mínimos, se manter a residir numa casa em Lisboa, e até mesmo nos Concelhos limites. Se uma renda de um mero T2 em Benfica pode chegar aos 800€, um T3 em Odivelas chega mesmo aos 1300€ por mês.
Se a renda é uma opção a não ter em conta, comprar casa então ainda se torna mais impossível. Em primeiro o valor especulativo imobiliário atinge números que são uma verdadeira mentira. Além dos bancos deixarem de parte a possibilidade de financiar os imóveis a 100%. Se para uns o 90% do valor já é demais, outros limitam-se a apenas 80% e uma série de requisitos como empregabilidade fixa. Num país onde a Legislação permite e contribui muito para a precariedade, e onde os salários pouco permitem uma taxa de esforço adequada ou uma taxa de poupança sorridente, comprar casa é algo completamente impossível para o comum cidadão trabalhador.
E se falar da carga fiscal já é tema de conversa corriqueira, então falar do valor absurdo da mesma e dos serviços publicos completamente devastados é algo que já faz parte do dia-a-dia dos que vão para a fila de espera por um cartão de cidadão que o garrote do Governo obriga. O mesmo governo que confunde a depauperados serviços públicos que ele nos presenteia, com a culpa do cidadão ter de estar á espera desde as cinco da manhã para conseguir uma vaga, das poucas, para actualizar o seu cartão.
Já para não falar na saúde, a quem Mário Centeno diz não fazer qualquer cativação, mas que teima em estar a entrar em colapso devido á falta de pessoal. Sim, faltam enfermeiros, médicos e auxiliares. Mas para Mário Centeno, doentes oncológicos que morrem á espera de exames, é uma situação pontual, a saúde está bem e recomendasse. Talvez para o Governo, como as filas para renovar o Cartão de cidadão são culpa dos utentes, talvez a culpa da saúde seja desta malta que teima em ficar doente, quando o país até está numa rota de crescimento exemplar.
Á esquerda do Partido Socialista existe a expressão "se não fosse o BE (...)". Ainda na apresentação das listas pouco faltou para dizer que só não estamos a ter mais calor porque o BE tem travado fortemente a vaga. Já o PS "fomos nós que (...)". Mas estamos todos a contar os mesmos troços que contávamos no passado, mas com serviços públicos mais degradados e sem sorriso no futuro.
Estamos na mesma, mas com Mário Centeno a fazer uma carreira brilhante para a Europa.
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