Ilegitimidade de alguém que se acha legitimo de alguma coisa
Estou, sinceramente, esgotado de ouvir os murmúrios da
Direita, disfarçado em choro, sobre a ilegitimidade do Governo PS. Estou
cansado de “birras” constantes e do “berreiro” ensurdecedor das bancadas dos bons
costumes, que se comportam como arruaceiros. Já chega da história do “governo
que saiu das eleições”, ou da “força que ganhou legitimamente”, ganhem juízo e
comportem-se como adultos, o Brinca Brincando já não passa na TV2.
Um governo ilegítimo?
Então e a Coligação com o CDS é legítima? Não foi Paulo Portas que mencionou
que as maiorias são feitas por deputados, e não, por vitória nas eleições?
Talvez a Constituição nas escolas não seja mal pensada, talvez a coligação não
ficasse surpreendida por a democracia existir, nem cometia, por 13 vezes
consecutivas, inconstitucionalidades.
Vamos então falar de ilegitimidade. Em 2011 Passos Coelho
mentiu. Não é ilegítimo mentir? Para a direita não, como diz João Almeida, até
afirma que se deve fazer. O comum cidadão foi enganado quando votou em 2011, e
não agora, quando votou por Passos Coelho. Passos foi ilegítimo, porque conseguiu
vencer as eleições mentindo aos portugueses.
A coligação cortou nas reformas de quem já tinha descontado
para elas, é um roubo, não é ilegítimo? Cortaram salários de quem trabalha, mas
aumentaram a riqueza de que vive à sombra de negócios com o Estado, não é ilegítimo?
Retiraram financiamentos aos hospitais públicos e deram aos privados, retiram
financiamento das escolas públicas para dar às privadas, não é Ilegítimo? Não é
ilegítimo fazer das empresas públicas objectos de negociatas, como o caso da
TAP? Não é ilegítimo vender uma empresa quando já o governo era de gestão? As
privatizações e concessões não são ilegítimas? Alguém deu legitimidade a Passos
para dar “novos donos” a empresas lucrativas?
Com que audácia um grupo de “delinquentes” políticos faz o
que faz e chama ilegítimo um governo suportado por a maioria? Se sabiam que não
conseguiriam governar, porque o PS foi firme a dizer que não viabilizaria um
governo da Coligação, o que estava por detrás do desejo ganancioso de governação?
Qual seria o motivo forte para se manterem no governo?
Não será ilegítimo, ilegal e prepotente ameaçar o país como
fizeram nos últimos quatro anos? Não será ilegítimo ameaçar o Tribunal
Constitucional? Não será ilegítimo utilizar a Sobretaxa do IRS na campanha,
repetindo as mentiras de 2011? Não será ilegítimo fazer uma campanha eleitoral
suportada por uma comunicação social suja e tendenciosa? Que legitimidade tinha
Passos para utilizar as páginas do governo como fonte de campanha?
A legitimidade foi dada pela maioria dos deputados, tal como
a Constituição indica. Nunca existiu golpe de Estado, só nas palavras de Passos
Coelho, que sempre viu a constituição como o “bicho papão” e pretendia revê-la
para abocanhar o poder. A democracia faz mal à direita, quando fala do comunismo
de forma preconceituosa, esquece que foi da direita que saiu a solução do
governo de Salazar.
A coligação está ressabiada, histérica, perdeu a vergonha e
não consegue controlar o insulto. Sim, insulto, porque insultam quando falam em
nome dos portugueses, insultam quando dizem defender os direitos dos
trabalhadores, insultam quando dizem que defendem o Estado social, e agora
cheira a azia.
Ilegitimidade cometeu a Coligação, quando transferiu
dinheiro dos trabalhadores para criar mais ricos, quando achou que as
conquistas dos primeiros anos da democracia eram lixo. Ilegitimidade é governar
contra o contrato social, que deveria pautar a governação de qualquer governo,
que legitimado pela maioria dos deputados, não pela “vitória”. A coligação
perdeu a vergonha na cara.