Dossier Banif Fase 2. Relatório de Contas e Sustentabilidade 2013: O que aconteceu?
Fig. 1 – Organograma do Banco em 2013
Fig. 2 – Estrutura de Accionistas em 2013
Desde o início do Relatório de
Sustentabilidade, logo na mensagem do presidente, percebemos como todo o relatório
se vai desenrolar. Começamos com uma frase inicial que se promete promissora: “O
ano de 2013 (….) foi um ano marcado por alterações estruturais, em que fomos
capazes de superar, com sucesso, vários desafios extremamente complexos.”
Falamos do ano em que o Banif
inicia o seu plano de recapitalização, com o Estado a injectar 1.100 milhões de
euros. Para além do Estado, também neste plano de recapitalização previa-se que
investidores privados injectassem dinheiro no Banco. Esta recapitalização
privada, só ficou concluída em Junho de 2014, sendo de 450 milhões de euros.
Para além disso, também se
iniciou um Plano de Reestruturação, em paralelo, chegando o Banco a ultrapassar
o teste de mercado, após claro, a recapitalização e a reestruturação do mesmo.
Bem, mas a mensagem do
presidente, Luís Amado, finaliza-se com uma frase: “A forma como fomos capazes
de superar os desafios que enfrentámos foi, uma vez mais, uma demonstração do
valor económico e social que o Grupo desempenha na economia e no sistema financeiro
português. Este facto permite-nos encarar com optimismo uma nova fase que agora
se inicia”.
Parece-me claramente distinta,
toda esta “segurança” apresentada, em contradição com aquilo que depois vem a
ocorrer. Também as suas declarações na Comissão de Inquérito são bem
contraditórias com esta mensagem que tenta passar, no documento escrito na
altura.
Mas na realidade pelos vistos nem
tudo estava assim tão bem, e mesmo com a recapitalização, tapou-se um buraco,
mas não toda a cratera que se tinha formado. E também com as consequentes más
reestruturações e com o “andar da carruagem”, tudo voltou como estava.
Mas é do relatório de contas que saem
os mais extraordinários números, que expressam que a “fachada” daquela mensagem
não passa de uma “cortina de fumo”, para quem num relatório com 500 páginas, só
lê as primeiras páginas.
Em 2013, o produto bancário do
Banif aumenta 40,5%, 194.1 mil milhões de euros, justificados pelo aumenta da
margem financeira, pela diminuição nas comissões líquidas, pela alienação de
títulos de rendimento fixo e na evolução dos activos imobiliários (continuando
em terrenos negativos). Activos imobiliários estes, que foram as grandes “máquinas” de enterro do Banco.
Os custos de estrutura em 2013
diminuíram, passando para 236,8 milhões de euros. Sendo que desta redução de
custos, a estrutura mais afretada, senão a única, foi a redução do número de
postos de trabalho, despedindo na altura, só no ano 2013, 179 colaboradores.
O Banco neste ano é objecto de uma
auditoria pelo Banco de Portugal (BdP), que implicou revisão da imparidade da
carteira de créditos do Banif, em 61,1 milhões de euros. É aqui que o Banco de
Portugal, com estas auditorias, não só à imparidade da carteira, mas também
noutras auditorias realizadas, inclusive pela PwC, Oliver Wyman, que o BdP tem
consciência daquilo que se vai passando no Banif. Alguma vez Carlos Costa tomou
alguma posição que fosse na sequência de fiscalização e protecção do Estado,
relativo ao estado do Banco?
O resultado líquido do Banif é de
-470,3 milhões de euros. O activo líquido do Banco é mais uma vez inferior ao
ano de 2012 (baixou 2,7% - 13.603 milhões de euros). Com o agravar da situação
a exposição do Grupo ao BCE contínua elevadíssima, aumentando 273,5 milhões de
euros, totalizando 3.077 milhões de euros no final de Dezembro de 2013.
Os recursos totais do Banco
continuam com a sua estrutura de maioria nos depósitos, logo de seguida dos
Bancos Centrais, da sua Dívida Própria Emitida e por fim dos Capitais Próprios
(aumentados com a recapitalização do Estado e accionistas privados).
Claro que o Rácio do Banco, mesmo
depois da recapitalização continua insuficiente, mantendo-se nos 11,16% (Rácio
Core Tier I), tendo como justificação, a amortização dos 150 milhões em CoCo´s,
antes injectados pelo estado, e pagos nesta tranche.
Como não podia deixar de ser, a
margem financeira do Banif, desce, são menos 7 milhões de euros, que no ano de
2012, ou seja, a recapitalização trouxe custos aos contribuintes, e mesmo assim
o banco não recupera. Anos e anos a fio de má gestão, elevam a que a solução
encontrada foi a mais dispendiosa, logo com a recapitalização de 1,1 milhões de
euros, e para além disso não resolveu o problema do banco, como viemos a
presenciar e “sofrer na pele”, dois anos depois.