terça-feira, 12 de abril de 2016

Science e um modelo laboral


  Se há coisa que faz sorrir o meu miúdo são os brinquedos didácticos da Science4you. Educativos, imaginativos e acessíveis no preço quer e na utilização. Uma  forma criativa de aprender ciência de forma espontânea. É essa a oferta dos brinquedos da Science.
   Uma empresa que marcada pela era do empreendedorismo e da crise. Um jovem empresário decide criar uma industria de brinquedos que misturam a diversão com aprendizagem. Um novo modelo empresarial em expansão, de negócio único na Europa, acompanhado mais tarde pela Clementoni. Excelente ideia, sem duvida, uma marca nacional.
     O problema com a Science não está nos brinquedos que produz, é a sua relação com trabalhadores e a legislação laboral. Nesse ponto a Science não surgiu como empreendedor, muito pelo contrário, está na linha do provincianismo do patronato português.
    Tudo se inicia com a preparação da época de Natal, a Science4you inicia um processo de recrutamento no inicio do verão, entre Junho/Julho, meses preferenciais para adquirir mão de obra necessária para o crescimento da empresa. Processo acompanha o aumento das vendas da empresa e as possíveis metas no futuro . A sua forma estranha de lidar com os recursos humanos é que não encaixa num modelo adequado de uma empresa em crescimento, seja no mercado português, pouco agressivo, seja nos variados mercados externos, mais agressivos. 
   Dois capitães, inicialmente, não têm capacidade criar um plano estratégica para os recursos humanos disponíveis, para isso, sem qualquer motivo serio, ascendem mais dois ou três colaboradores ao estatuto temporário de capitães, dependendo o numero de funcionários. Esse mesmo capitães temporários, por motivos pessoais, limitam-se a tornar inoportunos durante o período de actividade da empresa criando mau estar e mau ambiente no seio das diversas equipas. Mais estranho, e pouco esclarecedor é o motivo que leva à escolha dos responsáveis temporários, quais são os critérios e curriculum dos candidatos? Afinal vão ser pessoas que assumem, mesmo temporariamente, a responsabilidade de gestão dos recursos humanos.
   De quinze em quinze dias o coração aperta para os funcionários da Science4you. Aqueles que entram para reforçar a equipa já existente, andam de coração nas mãos. Qualquer funcionário pode estar na iminência, com ou sem critério plausível, de ser mandado embora. 
    A equipa é reforçada com um número significativo de funcionários, quinze dias depois, alguns desses funcionários são enviados para o desemprego, e contratados outros funcionários. Os critérios das escolhas, pouco se sabe, apenas se sabe que são trocados como fossem material, se vão cinquenta embora, vêm cem, e assim sucessivamente. 
    É aos ditos "capitães" que cabe gerir os recursos humanos, mas os mesmos não dão garantia de um gestão com qualidade. Em seu suporte está uma área de Recursos Humanos pouco eficiente, lamentavelmente inerte e incompetente, no entanto fazem parte dos poucos funcionários que não podem ser demitidos.
    Durante o período do Natal a Science é uma porta giratória de funcionários. Entram e saem quinzenalmente de forma desordenada sem que possam ser reaproveitados para diferentes tarefas dentro das instalações. São chamados abruptamente durante o períodos em passe mais despercebido aos restantes colegas, rescindem o contrato sem que possam regressar para se despedir dos restantes colegas, e são postos literalmente no olho da rua. Desaparecem num ápice enquanto o dia de trabalho corre normalmente. Os contratos de trabalho permitem este tipo de atitude. São contratos de trabalho a termo incerto, que se adequam à estratégia laboral da empresa. Empresa já sofreu uma multa e advertências pelo ACT, por não funcionar de acordo com a legilação laboral. 
   Qualquer funcionário está sujeito a ser mandado embora num abrir e fechar de olhos, sem que o contrato assegure qualquer direito. Assim funciona a empresa até ao mês de Janeiro. A Science, ao mesmo tempo que faz brinquedos didácticos, brinca com pessoas, utilizando precariedade como peça.
   Durante o ano de 2015, a Science demitiu e contratou centenas de pessoas, chegando a protagonizar uma foto com a "família Science" e o senhor Presidente da Republica, Cavaco Silva. Nesse dia a empresa apresentava uma enchente de funcionários de várias cores (várias equipas). Uma foto gigantesca para inglês ver demonstrando ao, comum cidadão, que a Science era uma que empregava muita gente. Mas  após a visita essa grande enchente de funcionários foi esvaziando e saindo pela porta dos fundos, ao magote e diariamente.
    Até à chegada do mês de Janeiro, existiram funcionários que criaram uma grande expectativa na sua manutenção na empresa, muito poucos, foram os que ficaram. Alguns ainda tiveram o cheiro de ficar, mas a incompetência quando é muita e a matemática parece ser madrasta, as contas batem errado, e minutos depois de um grupo se ir embora, são enviados os restantes. Ainda sobraram alguns, quase nada. 
   Há pouco tempo, entre portas e travessas, fiquei a saber que os funcionários que ficaram depois de Janeiro, que assinaram um contrato de seis meses, foram enviados para o desemprego, sem que o contrato tivesse terminado. Mais uma vez a Science adquiriu o estatuto de ré no ACT, mais uma vez por más práticas laborais.
  O que aqui está em causa é um projecto inovador, que possui tudo para crescer. Um projecto sustentável a nível financeiro, que pode criar novos mercados e proporcionar um crescimento da marca Portugal no mundo. Mas nada que é inundado com más práticas e má gestão pode sobreviver a este misto de incompetência, quer financeira, quer de Recursos Humanos. A Science não se pode tornar um mero veiculo de pessoas, que por um ou outro nada, são mandadas embora como mercadoria. O respeito não pode ser precário. 
  Se assim for, e se este patrocínio às más práticas laborais e ao desapego da gestão continuar, então a coisa promete uma empresa com prazo de validade, quando tinha tudo para dar certo. 

(este texto foi escrito através de depoimentos de ex funcionários da empresa)