quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

“Super qualquer coisa”



 Após a exibição do primeiro episódio do programa “Super Nanny”, as constatações retiradas dos teasers vieram a confirmar o pior. Além disso a SIC promoveu um debate, no dia 22 deste mês, que alegadamente deveria ser moderado por Conceição Lino, que de imediato tomou o partido de defesa do programa, escabrosamente colocando questões às duas interlocutoras, respetivamente à Presidente da Direção do Instituto de Apoio à Criança e à Presidente da Comissão Nacional de Promoção de Direitos e Proteção de Crianças e Jovens, insinuando a certa altura o próprio impacto nas crianças das declarações e futuras ações que a CPCJ realizará.
É caso para dizer “E se fosse consigo”. Não obstante, a Diretora de Programação da SIC, contudo em parcimónia com as restantes declarações chegou mesmo a dizer que o fim do programa serviria puramente para fins “sociais, pedagógicos”.

    Se existe quem acredite que a SIC está preocupada com a educação das nossas crianças, que se desengane dessas falácias politicamente corretas, pois na realidade o share e as audiências movem mais os corações exploradores palpitantes.
  
  O que se passa naquele programa trata-se de exposição meramente gratuita (entenda-se para as crianças), descorando por completo o impacto desta exposição da rotina diária das mesmas, incluindo contexto domiciliário em que vivem, mostrando em horário nobre, entre outras atividades de vida diárias, o autocuidado do banho, vestir e despir-se, etc… a toda uma equipa do programa, incluindo a própria da dita “Super Nanny”. Ou seja, não mais que uma devassa da vida privada, sem salvaguarda alguma, valendo-se alegadamente da exposição comportamental da criança, para “ensinar os pais” a educá-las. E assistimos as crianças a terem reações extremadas.
   
   A primeira questão que me assola provém entre as mais variadas do impacto direto na vida das crianças. Primeiramente agora enquanto estão na escola, que tipo de embate sofrem elas com a reação dos seus colegas após verem o programa? A temática do bullying deve ter sido esquecida do pano consequencial que paira nas cabeças quer da SIC, quer daqueles pais, porque a tónica de critica não se pode só restringir a quem emite o programa, vai também para os próprios progenitores. E outra questão impor-se-á no futuro enquanto jovens e adultos, que tipo de reação terão estes quando virem o programa.
    
   O pensamento colocado em caixas, vividas em “carpe diem”, dá nesta irresponsabilidade que mais uma vez mostra o lado de exposição da saúde mental da criança, violando o direito à salvaguarda da integridade pessoal da mesma, enquanto estes não são detentores de todas as suas capacidades. Porque quando dizem “os pais se responsabilizam”, deveria entender-se que os mesmos não são detentores de bonecos ou fantoches, e que o que gera os comportamentos como aquelas que os filhos detêm parte em grande parte por comportamentos de “imitação” fruto da família, ordem social, etc….
Com o mote da importação de programas de outros países, que geram não mais que um total desrespeito pelos direitos e proteção de crianças, vimo-nos em constante confronto com uma ideia de que para gerar um programa de “como educar os nossos filhos”, tenhamos de ter cobaias sociais, para que uma psicóloga clínica demonstre como fazer.

    Quando afirmaram que o programa abriu um “debate que nunca foi feito”, apraz-me dizer que abriu ainda mais o buraco que escava a febre da televisão sensacionalista que assistimos, de que tudo fazem para serem lideres de audiências.    

1 comentário:

  1. Concordo e subscrevo em absoluto o que referes cara Joana Pires...muito bom este artigo...

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