“Super qualquer coisa”
Após a exibição do primeiro episódio do programa “Super Nanny”,
as constatações retiradas dos teasers vieram a confirmar o pior.
Além disso a SIC promoveu um debate, no dia 22 deste mês, que
alegadamente deveria ser moderado por Conceição Lino, que de
imediato tomou o partido de defesa do programa, escabrosamente
colocando questões às duas interlocutoras, respetivamente à
Presidente da Direção do Instituto de Apoio à Criança e à
Presidente da Comissão Nacional de Promoção de Direitos e Proteção
de Crianças e Jovens, insinuando a certa altura o próprio impacto
nas crianças das declarações e futuras ações que a CPCJ
realizará.
É caso
para dizer “E se fosse consigo”. Não obstante, a Diretora de
Programação da SIC, contudo em parcimónia com as restantes
declarações chegou mesmo a dizer que o fim do programa serviria
puramente para fins “sociais, pedagógicos”.
Se existe quem acredite que a SIC está preocupada com a educação
das nossas crianças, que se desengane dessas falácias politicamente
corretas, pois na realidade o share e as audiências movem mais os
corações exploradores palpitantes.
O que
se passa naquele programa trata-se de exposição meramente gratuita
(entenda-se para as crianças), descorando por completo o impacto
desta exposição da rotina diária das mesmas, incluindo contexto
domiciliário em que vivem, mostrando em horário nobre, entre outras
atividades de vida diárias, o autocuidado do banho, vestir e
despir-se, etc… a toda uma equipa do programa, incluindo a própria
da dita “Super Nanny”. Ou seja, não mais que uma devassa da vida
privada, sem salvaguarda alguma, valendo-se alegadamente da exposição
comportamental da criança, para “ensinar os pais” a educá-las.
E assistimos as crianças a terem reações extremadas.
A
primeira questão que me assola provém entre as mais variadas do
impacto direto na vida das crianças. Primeiramente agora enquanto
estão na escola, que tipo de embate sofrem elas com a reação dos
seus colegas após verem o programa? A temática do bullying deve ter
sido esquecida do pano consequencial que paira nas cabeças quer da
SIC, quer daqueles pais, porque a tónica de critica não se pode só
restringir a quem emite o programa, vai também para os próprios
progenitores. E outra questão impor-se-á no futuro enquanto jovens
e adultos, que tipo de reação terão estes quando virem o programa.
O
pensamento colocado em caixas, vividas em “carpe diem”, dá nesta
irresponsabilidade que mais uma vez mostra o lado de exposição da
saúde mental da criança, violando o direito à salvaguarda da
integridade pessoal da mesma, enquanto estes não são detentores de
todas as suas capacidades. Porque quando dizem “os pais se
responsabilizam”, deveria entender-se que os mesmos não são
detentores de bonecos ou fantoches, e que o que gera os
comportamentos como aquelas que os filhos detêm parte em grande
parte por comportamentos de “imitação” fruto da família, ordem
social, etc….
Com o
mote da importação de programas de outros países, que geram não
mais que um total desrespeito pelos direitos e proteção de
crianças, vimo-nos em constante confronto com uma ideia de que para
gerar um programa de “como educar os nossos filhos”, tenhamos de
ter cobaias sociais, para que uma psicóloga clínica demonstre como
fazer.
Quando afirmaram que o programa abriu um “debate que nunca foi
feito”, apraz-me dizer que abriu ainda mais o buraco que escava a
febre da televisão sensacionalista que assistimos, de que tudo fazem
para serem lideres de audiências.
Concordo e subscrevo em absoluto o que referes cara Joana Pires...muito bom este artigo...
ResponderEliminar