terça-feira, 16 de julho de 2019

Não, não tem razão dona Bonifácio








Sobre o texto da Dra. Bonifácio nada vou dizer para acrescentar o que já foi dito da esquerda á direita. Não creio que estejamos a falar de um crime, mas sim de uma opinião que me parece ser tão descompensada quanto um verdadeiro albergue de desconhecimento da realidade. Não foi uma infelicidade da autora, é a sua opinião face ao seu pensamento social, apenas a transmitiu de forma clara.

Neste meu texto vou contrapor um dos parágrafos, juntando a minha experiência profissional á minha opinião sobre as tais "comunidades exóticas". Mas ao contrário de Bonifácio, eu faço com a coerência que se pede a qualquer ser humano que não se alegra apenas com os avanços científicos, mas principalmente regozijo pelo progresso político e social, coisa que a dona Bonifácio parece não ter atingido, ficando a viver nos dourados anos setenta.

A dada altura no texto, a dona Bonifácio salientou que a integração da comunidade cigana era impossível, para tal deu um exemplo infeliz e sem conexão nenhuma com a realidade. O exemplo foi o "comportamento dos ciganos no supermercado". Pois bem, decidi agarrar neste exemplo para demonstrar a senhora Bonifácio que está tremendamente enganada, e longe de uma realidade que é a nossa, do comum cidadão.

Eu trabalho no sector da distribuição Comércio e Retalho á 17 anos. Passei por os dois maiores grupos de distribuição, e em lojas onde as tais comunidades exóticas eram presenças habituais. Mas ao contrário do que a dona Bonifácio lê na sua ideia a realidade é muito diferente.

Durante estes 17 anos de lojas, já atendi milhentas vezes as comunidades que a dona Bonifácio chama de exóticas. Não fui sempre bem interpretado, ou tratado com educação, mas também não fui espancado por ciganos nem ameaçado com uma arma. Já existiu climas de tensão variados com muita falta de respeito á mistura. Mas por mais engraçado que pareça, raramente aconteceu com um "exótico".

Os hipermercados são terrenos férteis de comportamentos pouco civilizados. Além da falta de respeito, ameaças e agressões são prato forte de quem trabalha diariamente nos hiper. Mas a maioria são sempre aqueles cristãos e civilizados caucasianos, líderes dos direitos humanos, uma raça superior, tão superior que exige no atendimento que os mesmos caucasianos inferiores (trabalhadores dos hipermercados) façam a venia  no atendimento

Alguém que pega num produto e coloca em outro local por puro desporto consumista, aborda sem o mínimo de educação, solicita ajuda sem uma salvação ao funcionário, ameaçam e chegam mesmo a tentativas de agressão aos funcionários salvaguardados com a imunidade de cliente, provocam os funcionários desarrumando o que já está arrumado e muitos outros comportamentos que se poderia somar aqui de pura falta de civismo e de educação promovido por maioria dos clientes das grandes superfícies. Maioria em que são muito poucos os casos em que o cliente é "exótico".

Sempre fui abordado com respeito por parte das famílias de etnia cigana. Sejam mulheres ou homens. Com "bom dia" ou "boa tarde" e um "obrigado" no fim. Nunca fui abordado de forma que pudesse dar razão ao comportamento que Bonifácio entende que os "exóticos" tenham nos supermercados. Mas concordo com ela a novecentos por cento quando ela passa uma mensagem de incivilidade e falta de educação que existem nos hipermercados e supermercados, mas tenho de dizer que os protagonistas são os mesmos que pensam da mesma forma que a dona Bonifácio. A mensagem é verdadeira mas o mensageiro é outro completamente diferente.

Não posso partilhar as mesmas visões da Dra Bonifácio, falta-me a empregada caboverdiana para me informar como a sua comunidade exótica vive, mas posso sempre lhe dizer que o exotismo nos supermercados pelo menos é mais respeitador que o caucasianismo perfeito e superior.


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