quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Desespero pós eleitoral

    
    A quatro de Outubro na sede da coligação o sentimento era de vitória. Preparava-se um novo governo com os velhos hábitos. A derrota do PS suava como bengala da governação, ou aquilo, ou nada. Um mandato que não  pouparia ninguém, o ultimo de Passos, havia que aproveitar para ajustar tudo aquilo que ainda faltava. Ao PS restava ocupar os lugares e aprovar, ou na pior da hipóteses abster na votação de medidas impopulares de um governo demasiado radical. 
    A coligação julgou conseguir a maioria. O apoio da comunicação social (aliado estratégico) foi essencial. Um país entregue aos interesses externos preparava-se para avançar com a liquidação do que restava ainda público. Caixa Geral de Depósito, as empresas de transportes, a Educação, Segurança Social e a Saúde aguardavam serenamente a privatização e o desmantelamento. Estava tudo a correr bem, Passos Coelho tinha na mão o destino de um país que foi desmantelado aos poucos durante quatro anos. Tudo esbarrou na decisão democrática. 
    Costa trocou as voltas ás previsões futuras da direita, resolveu amortecer a queda com o jogo dos resultados, retirou o tapete e o o projecto de Passos e Porta. Seguiu o vento da vantagem da esquerda, aproveitou um período excepcional de uma maioria à esquerda no parlamento, e fez de um suposta derrota dolorosa um governo de esquerda. Cenário proposto por Paulo Portas no passado, mas nunca aceite pela direita. Ninguém acreditava em outra leitura que não a imagem de um PS subserviente. Não foi posta em causa a alternativa à governação de direita.  
     O pânico estava gerado nas Caldas e na Lapa, António Costa avança para uma coligação à esquerda, a direita fica desnorteada. CDU e BE mostram a disponibilidade de viabilizar um governo do PS, e a notícia caiu que mal entre os Sociais-democratas. O acordo com o PS ficou distante e impossível, e o governo, mesmo que assegurado por Cavaco Silva, estava prestes a cair.
   Portas e Cristas aumentam o tom voz,  visível o nervosismo e arrogância, não largam a expressão “quem ganhou, tem de governar”, dando uma leitura facciosa ás regras democracia. As circunstancias eram iguais às de Portas, mas a leitura era diferente. Comentadores  moderados e de esquerda ausentam-se forçosamente das televisões, a troca por comentadores mais favoráveis à direita. Gerou-se o pânico na comunicação social. Ninguém se atrevia a colocar um cenário da possibilidade de um governo de esquerda, era uma ideia absurda para o Expresso, SIC, Observador e tantos outros jornalistas espalhados.
    Uma direita sem programa olha para o fim de um governo que não chega ao poder.  Socialistas de direita (Álvaro Beleza e Assis), amantes de uma bossalidade muito própria, atacam Costa em nome de um bloco central que determinava o fim do Partido Socialista.  Portas perde a noção do ridículo acusando António Costa de “sede de poder”. Portas que nunca foi exemplo de ética politica, não fosse o mesmo que simulou a queda de Governo para tomar o poder. Portas, protagonista do momento mais insólito de um governo nacional.
   Passos quer negociar, Costa negoceia, mas não aceita. Costa quer mudar o rumo da governação do país com uma viragem à esquerda, quebrar austeridade, abandonar a linha de Passos. Passos não tem mais do que mãos vazias e conversa de saco roto. 
   Os comentadores radicalizam o discurso, acusam o Bloco de anti-democrata. Falam de medidas não negociadas. A direita e os seus comentadores afectos, entendem que vale tudo para enganar o país. O extremo e chega às acusações ao PCP e a imposição do Marxismo-Leninismo no país. Recuam a 1975 no discurso politico. O PS, figura central da negociação, desaparece. A comunicação social ataca os partidos à esquerda. A argumentação é a destruição do país, saída da União Europeia, e o fim do Euro. O país com BE e PCP corre perigo. 
   Aguçam os nervosos discursos. Uma campanha de ataques baratos. A angustia eleva a democracia a decisões desportivas. Tratam a democracia como de um mero campeonato de futebol estivéssemos a falar. Relegam os exemplos oriundos europeus de governos formados por maiorias, deixando quem ganha na oposição. Passos e Portas querem uma decisão favorável de Cavaco, e que o PS a aceite o governo de direita e mantenha a tradição parando imediatamente as negociações com PCP e Bloco. Durão Barroso fala dos desejos dos eleitores do PS, afirmando que os mesmos não desejam um governo com o apoio do PCP e Bloco. O impedimento do PS formar governo tornasse uma corrida contra o tempo.
   Os acontecimentos dos últimos dias demonstra uma coligação, e apoiantes, desorientados. Com uma arrogância desproporcional e falta de educação nunca antes vista na politica. O desejo de governar leva aos argumentos mais  estranhos e rocambolescos. O desejo de um PS  a "pão e água", sem cultura de oposição, mantêm-se. Comentadores e jornalistas fazem um verdadeiro cerco ao largo do Rato. A comunicação social quer a PàF, contra vontade de uma maioria dos eleitores. 
  Que a PàF tome posse, que caia no dia seguinte. Que transforme em momento de glória a teimosia do senhor Presidente, do Expresso, do Observador, do PSD e do PP. PS deve saber o que está  próximo de formar governo. Estas negociações à esquerda não são comuns, nem tradição, fazem parte de um momento único, é a democracia a funcionar de forma natural. Os resultados foram muito claros, a direita ganhou as eleições, mas a maioria não quer a direita no governo.