Entre a realidade e a informação
Portugal é conhecido por ser um país de brandos costumes. A nossa revolução, aquém e além-fronteiras, é conhecida pela revolução dos cravos. As manifestações nas ruas são notícia, não pelo que os manifestantes fazem de excesso, mas, pelo que as forças de ordem fazem, algumas vezes, em excesso a mando daqueles que não têm medo dos excessos. O povo conforma-se na sua acomodação e tem receio da mudança, preferindo continuar a ter medo em vez de sonhar. Os governantes actuam a seu belo prazer e os seus interesses não se coadunam com os dos seus eleitores.
Na rua, durante a campanha,
constatei o desejo de que todas as forças de esquerda se unissem e entendessem
de forma a colocar este governo na rua. Quando, em campanha na rua, BE, CDU,
LIVRE/Tempo de Avançar ou PS, se encontravam, parecia estarmos entre grupos de
amigos que decidiam como contrariar o evidente apoio dos meios de comunicação social
ao governo e… na despedida, desejávamos sorte… não a nós… mas… à esquerda… Quem
esteve em campanha notava que… mais voto menos voto a esquerda ganharia. Apenas
não se sabia a correlação de forças... Está demonstrado que a maioria viu, na
rua, essa necessidade de união da esquerda e previu a presente situação…
A comunicação social mais
mediática foi parte activa e interessada nos resultados. A grande parte dos
comentadores e daqueles que nos “informam” trabalhavam afincadamente para o
governo… como se tivessem medo de perder o seu emprego… Se calhar tinham razão
para esse medo… e juntassem o útil ao agradável para, eventualmente, receberem
umas belas coroas e/ou ficarem nas boas graças da direcção.
As sondagens diárias mataram a
democracia… quase que exterminando os novos e/ou os pequenos partidos. As televisões,
a coberto da legislação, pouco ou nada justa, fizeram o resto. A televisão não
vê a rua nem se interessa por manifestações, marchas ou eventos que favoreçam a
esquerda ou deixem má imagem aos governantes.
Esta semana deixou-me
estranhamente confuso. Que mundo é este? Porque não o vemos da mesma forma? O
que aconteceu em França não é admissível, assim como não o é em qualquer parte
do planeta. Não compreendo as razões que levam terroristas a praticar atos monstruosos
como também não compreendo que não se noticie o incêndio que matou em Calais
mais de 100 refugiados… ou o assassinato de 2.000 pessoas na Nigéria, de cerca
de 150 estudantes no Quénia e de outros tantos cidadãos na Síria. Todos estes
incidentes ocorreram no espaço de poucos dias, e no entanto, as notícias
ocidentais apenas dão destaque a Paris e incentivam o ódio aos refugiados que
fogem da guerra. Se o seu país estivesse a ser atacado como a Síria tem sido,
não fugiria? Se lhe destruíssem a casa e o seu bairro e lhe matassem toda a sua
família e os seus amigos, continuaria impávido e sereno? Não existem vidas mais
preciosas que outras e um terrorista deve ser julgado como tal seja ele de que
país for.
Aparentemente todos são contra o
terrorismo, mas quem é verdadeiramente contra o terrorismo? Os que lhes vendem
as armas? Os que lhes compram petróleo? Os que invadiram o Iraque, o Afeganistão,
o Koweit, a Palestina ou a Síria? A comunicação social é contra o terrorismo,
ou fomenta-o não noticiando a realidade? Qual é a realidade? Duas coisas são
certas, a maior parte das notícias da CNN, SKY, Al Jazeera, NTV ou RTP não nos
mostram a mesma realidade… e… a maior parte da realidade não é noticiada.
Em jeito de brincadeira… poderia
perguntar qual a maior indústria cinematográfica do mundo? Para uns Hollywood…
para outros Bollywood. No entanto, quantos filmes já viu de Hollywood e quantos
de Bollywood? A realidade perceptível não é a mesma para todos mas… existem interesses para que a realidade não seja igual em cada ponto do planeta. Quantas
pessoas ainda pensam que o homem não foi à lua? Quantos pensam que o World
Trade Center teve mão americana nos atentados? Quem não pensa se os reais
culpados da Casa Pia foram presos ou se foram presos inocentes?
Quem acha que o Clube de Bilderberg é responsável por tudo o que acontece a
nível global? Não acredito em teorias de conspiração, mas que as há… há.
A comunicação social deveria ser
isenta, imparcial, não dependente do poder e apresentar informação credível e
sustentada sob pena de incutir, nas pessoas, vontades diferentes da sua
natureza, fomentado o ódio, a vingança e a mentira.