Os fenómenos destas duas últimas semanas….
A parvoidade foi aquilo que aconteceu nas duas últimas semanas. Quando eu acho que já não conseguem superar tanta ignorância, há pessoas que conseguem completamente surpreender o meu magnânimo pensamento.
Primeiro, tudo começa com aquela bela pergunta feita a
pessoas conhecidas da sociedade, “O que levariam na mochila se fossem refugiados?”.
A ideia original poderia ser boa, pois iria dar visibilidade ao drama atual que
vivem aqueles seres humanos, sem que a Europa até agora tenha dado margem de
resolução do caso, bem pelo contrário. Constantemente assistimos a idealização
de acordos cada vez mais ridículos e medidas que não se traduzem em nada de bom
para as pessoas. E é assim que assistimos ao “ciclo vicioso do não se fazer
nada”.
Mas avaliemos a ideia posta em prática. Já por si só a
pergunta não é brilhante, e vimos que a transposição das pessoas para o caso
dos refugiados ainda foi mais catastrófica. Pelos vistos, as pessoas que tantos
veneram, como figuras públicas “conhecidas” no meio da sociedade, acabaram por
não ser brilhantes, muitas delas reveladoras do tipo de sociedade que temos.
Joana Vasconcelos foi a primeira e a mais criticada pelas
suas declarações. Não seria para mais, visto que na mochila esta levava tudo
menos o bom senso. Bom senso, este que
no seu vídeo diz que levava: iphone, ipad, agulha e lãs, joias, entre outras atrocidades.
Percebe-se bem que tipo de pessoa temos na nossa sociedade, que consagramos
como figura pública, demais importante na área das artes. E não me venham
justificar que disse isto, porque puxou à sua profissão aquilo que levava na
mochila, ou que até não estava preparada para discursar. Vimos aqui, não mais do que o apedeutismo de
uma pessoa, que valoriza os bens materiais e tecnológicos, sem pelo menos fazer
uma reflexão e ponderação, na questão de fundo solicitada, a transposição do
seu ser para aquilo que os refugiados estão a passar.
Mais abafado, vem as declarações do Presidente da República.
Não sei porque não tiveram tantas repercussões, mas o brilhantismo das mesmas,
também está abaixo de zero. Para Marcelo Rebelo de Sousa o discurso foi que
levaria: telemóvel, livro e uma bíblia. Peço-vos que façam um período de
reflexão…….
Mais uma vez o telemóvel, bens materiais, e a bíblia. Não é
querer deixar latente uma crítica à religião, é querer tentar perceber que
afinal as pessoas têm uma ideia dos campos dos refugiados, completamente ao
lado daquilo que se passa. Será que acham que as pessoas estão mais preocupadas
com os bens materiais ou com livros, ou terá superamente no seu horizonte a sua
sobrevivência, com recursos a bens básicos, como alimentação, dormida,
saneamento, os filhos, os netos, os pais, os avós.
Já percebi que o mal é ver os refugiados num ecrã de
televisão, ou numa reportagem, ou num filme, pois a capacidade de compreensão e
transposição é nula destes cidadãos. Custa-me a crer que nós tenhamos a sociedade
assim, e que se dê voz a uma sociedade, que é perfeitamente ridicularizável com
estas declarações.
Mas não termina por aqui. Há poucos dias, o Bloco de
Esquerda lança a proposta de mudar o nome do “Cartão do Cidadão”, para “Cartão
de Cidadania”. E todo o mundo se levantou, escondidos através das redes sociais
para dizer mal desta proposta. A dota ignorância chega a todos, dizendo muitos
que aos demais problemas da sociedade, aquilo que se incute na panóplia de
mudança, é a simplicidade de um cartão neutro, pondo em questão se isso
realmente tem algum peso na luta pela igualdade de género. Bem, para estas
pessoas digo uma coisa, o retrocesso da sociedade, está em hierarquizar as
coisas.
Explicando isto o que o Bloco quer fazer, não é deixar de
agir sobre outras demandas ou outros problemas, pondo em campo principal esta
do “Cartão de Cidadania”. Infelizmente, a imprensa hoje em dia é que só da
relevância áquilo que tem mais impacto na nossa sociedade, aquilo que
desmaterializa a hétero-normatividade da mesma. Se isto não fosse ainda hoje em
dia um problema, as pessoas não tinham tido esta reacção.
E depois as justificações são os mais variados possíveis:
Uns dizem, com tanta coisa com que se preocupar, dão importância a isto. Outros
dizem (de uma forma mais agravosa) que isto é uma forma de o PSD puder usar o
caso para dar mais brilharete. E ainda há aqueles que dizem que não é com base
num cartão que se vai abolir a descriminação, e que se trata de uma perda de
tempo.
Quanto aos primeiros,
não há nada a dizer. Hierarquias à parte, tudo isto tem importância, tudo isto
contribui para a sociedade, e alimentamo-la. Seja por pequenos ou grandes
passos, o importante é começarmos a desvitalizar aqueles que na sociedade, não
detém ideia nenhuma daquilo que falam, muito menos o que alegam, as
prioridades.
Depois aos segundos, permitam-me dizer duas coisas. Se
estivéssemos preocupados constantemente com o que outros pensam, estávamos
todos na mesma, a olhar sabe se lá para o quê, mas garantidamente numa
sociedade muito marginalizada. Segundo, permitam-me dizer que o Bloco de
Esquerda deve estar em tudo, menos preocupado com aquilo que o PSD diz ou deixa
de dizer, pois não me parece que esse seja o enfoque de atenção.
Depois aos últimos é
fácil de responder. “Perdas de Tempo” são pessoas que pensam assim, que não vêm
que é mais uma medida de entre de muitas que aos poucos e poucos vieram
mudar-nos. E sim mudar-nos, a todos. Pois muitos não estamos despertos para as
consequentes formas machistas com que olhamos o redor da sociedade.
Com tanta coisa nestas duas últimas semana fiquei a saber:
que com atitudes tão pequenas, existem pessoas tão reveladoras; depois de que
de pequenas atitudes, muitas pessoas se revelam no pior dos sentidos e por
último que “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a
estupidez conscienciosa.”
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