domingo, 27 de novembro de 2016

E agora, Trump

  


    As eleições americanas ficam marcadas pela vitória do candidato improvável, Donald Trump. Populista, demagogo, racista, machista, homofóbico e anti-imigração conseguiu conquistar o eleitorado q.b para se tornar o próximo presidente dos estados unidos eleito democraticamente. O que aconteceu? O que se passou naquela quarta feira negra nas urnas norte americanas?
    Donald Trump, em qualquer situação normal de numa democracia madura, não teria obtido um resultado que desse de sua existência como candidato. Comunicação social, artistas, figuras mediáticas e grande parte do mundo democrático fizeram apelos à não eleição de Trump, até mesmo ao boicote da campanha, parece ter sido em vão. Donald Trump fez uma campanha eleitoral pujada de ofensas e mentiras, ataques pessoais e ameaças, e foi eleito. 
     Comentadores, analistas políticos e jornalistas colocaram vários cenários para explicar uma vitória, histórica, de um candidato negativo. A ausência de "esquerda", representada, em grande parte por Bernie Sanders, o facto de Hilary ter sido apelidada de candidata do Sistema, até mesmo o facto do adversário de Trump ser mulher, tudo foi motivo para apontar uma vitoria do magnata. Talvez os cenários tenham algum fundo de verdade, que a imagem de Clinton tenha estado na origem da vitória de Trump e a ausência do discurso de Sanders também tenha impulsionado a candidatura de Trump, mas talvez outros motivos deram a eleição a Trump. 
    Um candidato que falou à direita, apostou no discurso racista e homofóbico, no ataque aos imigrantes, deu a mão à extrema direita e aos conservadores religiosos. Abraçou as ideias do Tea Party Republicano, conseguindo reunir os seus adversários,como Ted Cruz, em torno de uma candidatura que se desvendou eficaz. Falou, também, à esquerda , conseguiu aproximar o seu discurso a de Bernie Sanders, discursando, principalmente, para o eleitorado de Sanders, que estava longe de apoiar Clinton. Apresentou um discurso anti-sistema, diferente de Hilary, criando ilusão de ser um out sider do que o alimenta, o Sistema financeiro. Trump faz parte do Sistema, vida de Trump é o sistema, ele é o candidato do sistema, um candidato de Wall Street.
   Independentemente do que possa ter motivado a vitória de Trump, a reflexão do porque e como deve ser feita procurando, como sociedades democráticas, os motivos que estão a levar os extremos a ficar mais próximos da governação. No entanto, da vitoria de Trump o perigo não vem, apenas, dos seus discursos de campanha, ou da reversão de medidas de Obama, vem, acima de tudo, de medidas que possam ser tomadas durante o seu mandato, como a possibilidade de uma desregulamentação dos mercados financeiros, o fruto apetecível de Wall Street, a repatriação de milhões de imigrantes aos países de onde muitos fugiram, e principalmente o não cumprimento do protocolo de poluição, podendo agravar os problemas ambientais já existentes. Trump não é perigoso no discurso, é no acto.
    Os próximos quatro anos, avaliando os convites feitos a figuras pouco recomendadas, não serão propriamente fáceis, nem para os norte americanos, nem para os restantes países com quem os EUA detêm ligações económicas e cordiais. Trump não é um agente amigável das liberdades. A sua relação com a imprensa não é melhor, os seus comportamentos com os programas de humor não são os melhores, e o seu discurso contra as comunidades já surte efeitos negativos, a sua forma de estar é boçal. 
   Esperam quatro anos de um atraso civilizacional nos Estados Unidos, de comportamentos pouco democráticos e de um fim dos valores democráticos e progressistas que os Estados Unidos sempre encabeçaram. Trump não será solução, Trump será o verdadeiro problema. 

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