quarta-feira, 17 de outubro de 2018

As Maçonarias...












  Num artigo/postagem anterior que publiquei neste Blog, referi que havia Maçonarias e não uma Maçonaria e assim é o que de facto se passa, este curto artigo/postagem tem a intenção (que será sempre incompleta) de esclarecer o porquê de haverem Maçonarias e não uma Maçonaria, como alguns maçons e/ou historiadores defendem - se bem que minoritários - e a que muitos detratores e/ou conspirólogos - defensores e propagadores das teorias da conspiração - se agarram para a atacar e/ou fundamentar as suas teorias mais ou menos dementes de que somos malditos e de que eu e outros por sermos maçons somos imbuídos de uma imperfeição original.

Historicamente e desde a fundação e primórdios da Maçonaria na sua versão especulativa - que difere da anterior que era operativa, ou seja, formada por trabalhadores/operários de ofícios vários que construíam templos religiosos - que a origem da Maçonaria não é única.

Daí que a Maçonaria sempre foi desde o início um conjunto de Maçonarias, aliás até à consagração de rituais mais ou menos coesos de Ritos, que hoje os maçons reputam de esmagadormente maioritários mundialmente a diversidade quer da origem quer de algumas partes destes é muito diversa e ainda objeto de intensas discussões internas e/ou entre historiadores e pensadores do fenómeno e/ou da história maçónica.

Até entre os Rituais hoje mais praticados mundialmente, a saber, o Rito de York - também chamado de Real Arco - o Rito Escocês Antigo e Aceito - sim Aceito e não Aceite - e o Rito Francês e/ou Moderno existem uma multiplicidade de diferenças que vão desde o pormenor e/ou adaptações pontuais mas próximas - casos dos do Rito de York e do Francês e/ou Moderno - até ao seu contrário absoluto como o do Escocês Antigo e Aceito.

Neste último ponto muitos maçons acham que cada um é que pratica um Ritual que é o superior e/ou o correto quando deveriam era pensar que, não é dessa forma que deve colocar a questão, mas sim que sendo a sua origem diversa bem como quem os pratica também a sua prática terá forçosamente conduzido a diferenças substanciais.

E ainda neste último ponto e, especificamente no Rito Escocês Antigo e Aceito, posso vos referir aquilo que eu pratico, sendo que a Ordem Maçónica Mista Internacional "Le Droit Humain" pratica o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, todo este e bem, foi adaptado para uma versão inclusiva que tem em conta todos os géneros, sim inclusive pessoas com género diferente e/ou sem o mesmo definido, daí o nosso ritual da maioria das Lojas Azuis - células base de todas as organizações maçónicas e que atribuem os três primeiros Graus: Aprendiz; Companheiro; Mestre - ser denominado Ritual Georges Martin em honra de um dos nossos fundadores e de quem também de longe trouxe a parte ritualista do primeiro ao trigésimo terceiro grau - pois o era de onde vinha - do então existente Supremo Conselho de França, assim e mesmo sendo o Rito Escocês Antigo e Aceito, as suas diferenças abismais entre este e os praticados pelas lojas de alguma Obediência dita de regular, fazem com que o Ritual Georges Martin seja felizmente o oposto em muitos pontos fundamentais em relação a essas, a começar pela aceitação de outros géneros que não apenas o masculino e o facto de retirar toda a carga dogmática e crente do mesmo.

E podemos começar por essa distinção fundamental moderna - não falarei das passadas porque nem numa enciclopédia de muitos volumes a conseguiria expor - entre as diferentes Maçonarias, a diferença entre os exclusivamente masculinos e dogmáticos - que se chamam a si de tradicionais - e os liberais e adogmáticos, são várias, as mais importantes:

- Os primeiros aceitam maioritariamente a maternidade directa e/ou indireta da Grande Loja Unida de Inglaterra - United Grand Lodge of England v. UGLE - os segundos embora sem embargo de muitos acharem que é daí a sua origem histórica não aceitam maternidades nem diretas - onde esta tem precedência de facto e/ou ritual - nem indiretas - seguindo apenas algumas práticas desta - da UGLE. É daí que vem o conceito de regular e de irregular, ou seja, os exclusivamente masculinos e dogmáticos referem que eles são "os regulares" porque ou têm o diploma desta Grande Loja ou seguem os rituais históricos que esta emana enquanto que e os liberais e adogmáticos referem que quer os diplomas quer os rituais são absurdos e/ou enquistados em tradições que agora já não têm sentido quer histórico quer social;

- Deste modo os exclusivamente masculinos e dogmáticos referem que seguindo esses rituais que nem mulheres, escravos e/ou seres com deficiência podem ser iniciados e os liberais e adogmáticos contestam e acham que tal conceito é absurdo no mundo de hoje, aceitando mulheres iniciadas, rechaçando a parte dos escravos e achando absurdo a noção de deficiência como exclusão de iniciação;

- Também e baseando-se nos rituais históricos emanados pela UGLE, os exclusivamente masculinos e dogmáticos referem que apenas os crentes numa religião que aceite um D'us e/ou um ente/ser revelado podem ser maçons, já os liberais e adogmáticos não aceitam exclusões de seres humanos com base em terem ou não uma crença, deixando para a sua liberdade de consciência a mesma, podendo estes até não a terem definida;

São estas as três distinções fundamentais entre os chamados dois grandes campos mais antagónicos das Maçonarias e são de tal maneira antagónicos que os exclusivamente masculinos e dogmáticos proíbem que qualquer irmão e/ou irmã do campo dos liberais e adogmáticos participe em qualquer reunião maçónica da sua loja, já o contrário também acontece, mas é normalmente deixado ao critério da Loja que os recebe e, falando sobre a minha experiência pessoal, já me encontrei com alguns irmãos destas Obediências exclusivamente masculinas e dogmáticas em lojas e em trabalhos rituais de Obediências dos liberais e adogmáticos, com quem a minha Federação Portuguesa e Federação Espanhola - da Ordem Maçónica Mista Internacional "Le Droit Humain" - tem acordos de amizade, que são todas como é óbvio do campo das Obediências liberais e adogmáticas, inclusive em Obediências femininas onde parece que muitas esposas destes são iniciadas, o que se virmos bem parece um contra-senso, mas que não me cabe a mim julgar como maçon liberal e adogmático que sou.

Agora vamos lá analisar estes dois campos separadamente, ou seja, o dos exclusivamente masculinos e dogmáticos e o dos liberais e adogmáticos e o facto de dificilmente e até nestes campos mais homogéneos ideologicamente ser difícil haver uma concentração que leve ao poder único e centralizado que muitos conspirólogos atribuem às Maçonarias a nível mundial.

Vamos ao campo mais fácil de refutar pois é onde as diferenças porque mais fáceis de discernir porque ou são só compostas pelo género masculino, feminino e ambos os géneros multigéneros e/ou mistas e depois iremos ao mais difícil pois é onde as diferenças são aparentemente menos flagrantes até porque apenas têm a ver com pormenores meramente históricos.

Deste modo comecemos pelo campo dito de liberal e adogmáticos, neste campo onde existem obediências masculinas, femininas e/ou mistas existe a primeira obediência que se declarou liberal e adogmática, o Grande Oriente de França (v. GOdF) - antes aceitava exclusivamente elementos de género masculino, tendo agora Lojas Azuis mistas - é óbvio que a mesma foi a inspiração e é de longe quem exerce uma maior atração nas Obediências que se reclamam deste campo, mas não podemos deixar de referir que outras Obediências quer pela sua história quer pelo seu número de membros e influência a nível mundial sobre outras Obediências liberais e adogmáticas também têm um peso considerável, destaco seis (a ordem é histórica e pela sua fundação): o Grande Oriente Lusitano; o Grande Oriente da Bélgica; a Ordem Maçónica do Rito Antigo e Primitivo de Memphis Misraim (também conhecida por Maçonaria Egípcia); a Ordem Maçónica Mista Internacional "Le Droit Humain"; a Grande Loja Feminina de França.

Se excetuarmos a terceira, que já não existe a original mas que deu origem a uma multiplicidade de outras Obediências com fins semelhantes, todas as outras a par do GOdF ainda existem e prosseguem a sua atividade e uma razoável influência no campo liberal e adogmático. Ao ponto do GOdF, ter sido quem despoletou o chamado Acordo de Estrasburgo, que formou a organização CLIPSAS, que federa uma grande parte das organizações liberais e adogmáticas, já agora, Federar é respeitar a suas diferenças sem nenhuma influência e/ou tutela e/ou de emissão de ordens centrais. O Grande Oriente Lusitano foi a origem das potências brasileiras que agora estando a maioria no campo exclusivamente masculino e dogmático não deixam de reconhecer a sua autoridade histórica e maternidade linguística e ética até porque passou-se o caso único de quando fundado, o então, Grande Oriente Lusitano Unido, ter a patente e/o reconhecimento quer do campo dos regulares e/ou exclusivamente masculinos e dogmáticos quer do campo dos liberais e adogmáticos, ou seja, quer da UGLE quer do GOdF. Já a Grande Loja Feminina de França foi a grande dinamizadora das obediências Femininas a nível mundial, inclusive da de Portugal, formando outra Federação Mundial neste campo - o CLIMAF - que se reúne com regularidade sendo que grande parte destas obediências também fazem parte do CLIPSAS. Por fim a Ordem Maçónica Mista Internacional "Le Droit Humain" pelas suas características únicas e internacionais tem uma influência transversal ao mundo todo, pois está implantada nos quatro continentes - os que o homem pode habitar - e deu origem por diversas dissidências a inúmeras Ordens e/ou Obediências mistas por este mundo afora.

Por este resumo vemos que o campo liberal e dogmático dificilmente será um campo coeso embora se destaquem algumas obediências que têm uma influência, mais ética e de precedência histórica, do que outras, o CLIPSAS aqui referido é um Fórum e/ou Plataforma de discussão que nada vincula nem ordena é apenas e só e quanto muito uma federação de vontades no chamado campo liberal e adogmático, às vezes mais coesa outras nem tanto.

No campo das obediências exclusivamente masculinas e dogmáticas temos que distinguir duas áreas de influência muito definidas, a primeira é daqueles que aceitam sem reservas a maternidade da Grande Loja Unida de Inglaterra e/ou UGLE, a segunda daqueles que aceitam a influência ética e/ou ritual de documentos e/ou práticas emanadas desta, mas que dificilmente aceitam maternidades porque com razão ou sem ela se dizem independentes e/ou precedentes a esta.

Na primeira área, a UGLE federa e organiza de facto grandes encontros internacionais, onde vemos hoje, Eduardo, denominado no Reino Unido de Duque de Kent e Grão Mestre desta à frente destes encontros. Esses encontros, muitos deles organizados fora de Inglaterra, contam com maçons dos quatro continentes embora escape a quem vê essa manifestação interessante de aparente unidade que todas essas obediências são constituídas por membros e estatutos claramente patrióticos e exclusivamente nacionais. Sendo que os dois grandes pesos pesados, pelo número de membros, dessa área têm uma diferença insanável que se chama modo de governo, a UGLE aceita sem discussão a monarquia e as obediências estaduais norte-americanas são claramente republicanas sendo que todas são patriotas e algumas claramente nacionalistas e opositoras quer à monarquia quer à república democrática, como por exemplo, a de Cuba.

Na segunda área, encontram-se duas obediências que não aceitam a maternidade direta da UGLE, mas que aceitam o mesmo conjunto de valores éticos que esta e/ou documentos emanadas desta e/ou com semelhanças rituais fortes, a saber: Grande Loja da Escócia - The Grand Lodge of Ancient Free and Accepted Masons of Scotland´s  - e a Grande Loja da Irlanda. A primeira, com razão, diz que tem precedência histórica sobre a UGLE - as suas Lojas são muito anteriores a qualquer Loja fundada em Inglaterra - a segunda também alega essa precedência, embora sem razão, mas o que a separa da UGLE é bem mais ideológico e tem a ver com a sua independência do Reino Unido e o republicanismo desta última. Ambas atribuem cartas patentes - reconhecimentos de que uma Obediência segue as regras maçónicas e rituais para poder ser Obediência - neste campo e não aceitam qualquer tipo de declaração de maternidade por parte da UGLE. Mas neste segundo campo umas largas dezenas de Obediências que são dissidências da UGLE, destas duas referidas ou de outras que aceitaram a maternidade e/ou tiveram as cartas patentes das referidas. Por exemplo no Brasil temos a COMAB e alguns Grandes Orientes e/ou Grandes Lojas estaduais que enquadrando-se no campo exclusivamente masculino e dogmático não são aceites em encontros da UGLE - é que esta apenas aceita uma Obediência por país e/ou estado federado - o mesmo se passando com inúmeras por esta Europa e mundo fora, que têm um pendor fortemente nacional.

Por esse motivo é que eu refiro e reforço a ideia da existência de Maçonarias e não de uma Maçonaria, essa só existe - ou deveria existir - num campo, o ético e o moral.

Daí que muitos autores, alguns até de boa fé e a grande maioria não maçons que falam sobre maçonaria confundem muita coisa e vou apenas resumir as confusões mais importantes:
- Documentos emitidos no passado, mesmo pelo campo exclusivamente masculino e dogmático podem estar desatualizados e reproduzem opiniões daquele tempo e influências históricas passadas;
- Quando se analisa Obediências maçónicas liberais e adogmáticas tem que se perceber que algumas começaram por não o ser e outras fruto de vários fatores, mudaram de campo várias vezes, um caso paradigmático é o do Grande Oriente Lusitano, pois analisa-se documentos sem ter em conta qual era o campo em que se posicionava naquela altura, e sim este variou muitas e bastantes vezes, às vezes e na mesma década e conforme a Grande Dieta e/ou o seu Grão Mestre esta Obediência era ou mais liberal e adogmática ou mais masculina e dogmática;
- Atualmente os campos estão razoavelmente definidos, mas existem Obediências em que se as formos analisar existe ou uma recusa de escolherem um lado e/ou afastam-se de qualquer rótulo;
- Um Maçon - membro da maçonaria - é quando Mestre - membro da maçonaria com o 3.º grau - um ser livre em loja livre, seja de que Obediência for, não existe para além dos estatutos da sua obediência algum cumprimento e ou obrigação de seguir ordens ideológicas, religiosas e/ou políticas de superiores, deste modo vinco que, a Maçonaria não é uma seita mas sim uma vivência ritual que, como vimos pode ser muito distinta, mas que é uma escolha livre desse Maçon a viver e não uma imposição a esse de a seguir. Deste modo muitos anarquistas encontraram nas diversas Maçonarias um meio ideal de estarem e tal como eles muitos cidadãos das mais diversas vivências sociais, ideológicas e religiosas.
- Os anátemas religiosos que foram emitidos por religiões e/ou o seu clero superior, foram aplicados por estes e não pelos maçons, que a estes foram alheios, e é preciso compreendê-los religiosa e historicamente bem como a sua evolução posterior, ou seja, se estes ainda existem ou não e sejam de facto ou se a sua justificação ideologica de então se mantém atual.

Não existem dogmas maçónicos, queria sublinhar isso, a Maçonaria é uma fraternidade iniciática cujo o fim último é o iniciado com a sua evolução lá dentro ser um melhor ser humano do que era quando entrou.

Quando falo de maçonaria dogmática refiro que este conceito se refere que estas Obediências apenas aceitam membros masculinos que são crentes numa religião e/ou que aceitam um D'us e/ou um ente/ser revelado tal não implica que o D´us seja o conceito hebraico, cristão e/ou islâmico apenas que seja este conceito na generalidade, foi esse aliás um dos fundamentos para as condenações iniciais por parte do clero católico apostólico romano e islâmico à maçonaria e aos seus integrantes quando apareceu, pois esta sã convivência entre crentes era vista com muito maus olhos.  

Alguns convencem-se que esse trabalho está acabado e depois todos pomposos julgam que podem dar lições de moral a terceiros, sejam estes maçons ou não, esses são aqueles - e são muitos acreditem - que dificilmente perceberam qual o objetivo último da Maçonaria. A maioria julga e bem que é um trabalho constante e que são internamente e sempre uns aprendizes, esses são os melhores maçons que podem haver e são muitos desses que se destacando em determinados momentos, voltam para a quietude da sua existência após serem enormes

Precisamos de mais seres desses nos tempos modernos pois esses é que são os maçons que entenderam o papel real de um pedreiro livre...

Acabo com uma ideia, que não é difícil encontrar boa informação por aí sobre esta temática, claro que muita está em Livros, aquilo que muitos hoje em dia se recusam a ler, inclusive muitos jornaleiros de serviço, que investigam páginas efetuadas muitas vezes por dementes conspirólogos que nunca leram na sua vida um livro ou que usam alguns documentos que vão apanhando por aí e que truncam sem terem em conta quer a sua época histórica quer o seu fundamento ritual e ético, muitas vezes com séculos de existência, a esses aconselho-os a ler, é que quando se o faz com regularidade, nota-se logo quando se escreve e na língua que se escreve...é como beijar...

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