quarta-feira, 17 de julho de 2019

Quero ter os inimigos perto









 A extemização da política está a crescer. Sem dúvida que hoje uma frase pode ter leituras diferentes que podem muito levar a ataques pessoais e profissionais. Na melhor das hipóteses o contexto pode levar apenas a tentativa de lápis azul e silêncio da opinião de terceiros. A muito custo o debate deixou de fazer sentido, agora tudo se resolve com um bom pare de ofensas.

Recentemente passei por isso. Por ter comentado de forma negativa uma a opinião de Daniel Oliveira, e por entender que DO tem uma posição sobre os animais que não é a minha, mas principalmente por DO ser ofensivo sempre que aborda quem gosta de animais, não sai daquela caixa de comentários sem uma boa ofensa. Tudo se resume ao meu sentido "fascista" e ao argumento dos dois gatos que o DO tem. O melhor foi a falta de argumentos ter levado a um bloqueio.

O texto de Bonifácio é mau, expressa o preconceito e a superior moral e intelectual de alguém que acha que o tom de pele e a comunidade a qual pertence são características para se inferiorizar outros, é a opinião dela. O facto de a opinião dela ter sido logo acusada de crime demonstra que a tolerância esgotasse nos ideais de cada um. Discordo completamente que a opinião da senhora seja um motivo para queixa, muito menos que se tente silenciar as pessoas que têm a mesma ideia. Ao contrário de muitos que partilham o mesmo espaço ideológico, eu prefiro que as pessoas como Bonifácio tenham espaço para dar a sua opinião. Da mesma maneira que quero que gente como eu use o mesmo espaço para contrapor e retirar a razão a quem pensa como Bonifácio. Não quero censurar os e as "Bonifácios" que por aí andam, sejam eles escritores no Observador, território de muitos, sejam eles os meros artistas que de vez em quando se vão ouvindo ou lendo pontualmente.

 O facto de partilharem ideias bastante antagónicas às minhas, e serem argumentadas com uma espécie de superioridade moral e intelectual, é me totalmente favorável porque posso rebater de forma a desmembrar um por um os argumentos que eles defendem. E se, ao contrário da maioria, lidar sem ironias, ofensas ou parvoíces, torna muito mais difícil que eles mantenham a defesa da sua linha de pensamento. Porque a melhor maneira de lhes quebrar a linha de pensamento não é lhes retirando o direito á palavra, mas lhes retirando a razão.

O conjunto de textos que se seguiram a desmembrar o pensamento da senhora Bonifácio. Textos coesos e com simplicidade suficiente para irritar João Miguel Tavares e o mesmo acabar por colocar os pés pelas mãos em textos desconexos. Esse conjunto de textos da esquerda á direita tornaram visível que o pensamento de Bonifácio não é recomendado no espaço político, e está longe da sensatez da nossa democracia. E eu prefiro assim, prefiro conhecer a Bonifácio, o Tavares e tantos outros, de forma a conhecer o "inimigo" nos olhos, do que lutar contra servidores escondidos algures em qualquer parte do mundo onde são despejadas notícias falsas. Quero poder "partir a espinha" a quem tem "espinhas" na opinião. É essa a essência da democracia.

Não sendo o presidente da minha eleição, não posso estar mais de acordo quando Marcelo afirmou que o extremo deve ser combatido de outra formas, não com extremizar de posições. E até mesmo a sua opinião foi atacada com ofensa pessoais ao Presidente. Mas é essa a posição de muitos daqueles que entendem que o espaço da democracia é a tolerância e o debate democrático.

 Se os mais moderados não aparecerem, estamos sujeitos a tornar a política tão agressiva que acabamos por ter uma opinião de Pacheco Pereira a ser considerada de fascista e preconceituosa. A sensatez na política é cada vez mais necessária.

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