Imprensa e a Coligação
Por a sua sobrevivência,
a imprensa é obrigada a tomar sempre partido de tendências. A desportiva,
querendo ou não, tem uma tendência mais vermelha. O número de adeptos e
simpatizantes do Benfica leva à venda de mais exemplares, ao contrário do
Sporting ou Porto. No que diz respeito à actividade politica, não é diferente. Não
pelo número de vendas, mas pelas tendências políticas de alguns jornalistas,
accionista ou da própria Direcção. Ao contrário dos jornais desportivos, que a
tendência tem por objectivo as vendas, os jornais diários, ou semanais, é uma tentativa
de levar o leitor a ceder às suas tendências políticas, acreditando palavra a
palavra, frase a frase, sem questionar. Em Portugal, essa forma de fazer
jornalismo tornou-se mais óbvia perante o cenário da Coligação perder as
eleições, durante a pré e campanha eleitoral.
Capas de jornais e colunas de opinião mera propaganda à
Coligação, homenageando os feitos de um executivo forte com os fracos, e fraco
com os fortes, e de forma agressiva, atacam o PS. A Coligação montava uma
multidão artificial, e lavada em ombros chega para um título artificial do
Expresso – “PàF em ombros”. O PS, pelo contrário, sofria ataques constantes. Ao
líder, ao programa, à campanha. A Negrito e vermelhas, títulos visíveis à distância,
e bastante aclamativo, o PS atacado por diversos títulos agressivos, Capas que
anunciavam o clímax, desmentidas por textos vagos e sem argumentação forte. Não
havia duvidas, a ideia era simples, derrubar o PS, no custe o que custar, doa a
quem doer!
Os acontecimentos de Braga foram sanados de forma eficaz. A
imprensa fez crer que os manifestantes eram, simplesmente, lesados do BES e o
sindicato dos professores. Não valia a pena ver a reportagem na totalidade, as
personagens alteram-se, a peixeira que se recusou a cumprimentar Passos, era
lesada do BES, e não alguém que tem dificuldades, o homem da bancada da fruta,
era sindicalista, e não o homem que viu o filho partir, a convite do Primeiro-ministro,
e o casal que gritava – “vai te embora chulo” – eram professores, e não
reformados com cortes nas reformas. A história ajusta-se de forma simples,
enganando o leitor. Os jornais queriam-nos fazer querer que o povo estava com
Passos, e aqueles rufias eram apenas mandriões dos professores e dos lesados do
BES, até gente do Partido Socialista, quem sabe, nada mais. Ao contrário, a
imagem de Costa era destruído dia para dia. Não haveria espaço para uma vitória
do PS, é necessário atacar António Costa e atacar os socialistas. Entre as
sondagens, firmemente criticadas, as noticias e o caso Sócrates, tudo, era
motivo para levar o PS a uma derrota, e a imprensa sair vitoriosa. É ai que
aparece o Bloco de Esquerda. Os miúdos lá do “canto” são bons, podem dar uma
coça no PS.
A Catarina Martins foi dada a mediatização necessária para a
fazer crescer a for do Bloco à esquerda. Catarina dominava, maltratava, atacava
e ganhava os debates. Catarina enchia os auditórios, as praças, Coimbra e muito
mais, Catarina era a gigante entre os lideres partidários. O mundo estava aos
pés de Catarina Martins. O objectivo era que o Bloco impedisse o Partido
Socialista de vencer, para que tal acontecesse, o desvio do seu eleitorado mais
à esquerda do PS tinha que acontecer, e não só. O Livre foi o único partido à
esquerda do PS que assumiu a sua vontade de se coligar, se houvesse capacidade
eleitoral. O Livre pagou muito caro por esse sinal. Se aparecia era pouco, ou
quase nada, o Livre foi varrido da comunicação social. Era tempo de
salvaguardar o Bloco, acreditando que este nunca negociaria uma coligação,
qualquer que ela fosse, com o PS. Já a Jerónimo de Sousa era dado o tempo de
antena suficiente, a história e a clivagem entre PS e PCP falava por si, com o
“novo comunismo” não era necessária preocupação. Bastava abrir um, ou outro,
telejornal, com as críticas de Jerónimo de Sousa ao PS, e ficava resolvido.
Jerónimo e Catarina “traíram” a comunicação social, abriu-se
a possibilidade de um acordo amplo à esquerda, porque é na esquerda que reside maioria
absoluta. Jerónimo de Sousa no dia cinco de Outubro, dá um murro no estômago da
imprensa. Depois de duas vitórias, a derrota do PS e a não eleição do Livre, a
imprensa olha para uma negociação à esquerda que complica as contas da
Coligação PàF. Não podia ser, mas o alívio vinha da Rua da Palma, nas redacções
acreditava-se que o Bloco não iria alinhar nisto, até chegar a dia seis. O Bloco
coloca em cima da mesa um entendimento possível com o partido Socialista. Cai por
terra a luta desenfreada da comunicação Social, que tanto fez para que o PS não
conseguisse atingir a possibilidade de governar, apoiou a PàF e os partidos à
esquerda do PS, trouxe Sócrates para a campanha, atingiu o PS em todos os seus
flancos, mesmo assim o PS tem possibilidade de chegar a governo?
Retiram-se comentadores de esquerda, fala-se num acordo
frágil e sem possibilidades de vingar. A Catarina passa de a Grande, para a
extremista, renasce os mitos pós Abril, como a história dos comunistas querem
comer as criancinhas. Nuno Melo e Paulo Rangel são chamados de canal em canal,
o Observador ganha espaço em todos os programas onde a politica seja o assunto,
e em todos os canais. De David Diniz na TVI a Helena Matos e José Manuel
Rodrigues, todos eles têm espaço mediático. A esquerda, mais representativa,
perde o espaço de debate. Fala-se de mercados, dos parceiros Europeus, do
cumprimento do tratado orçamental. Ameaça-se o eleitorado, cria-se o pânico. A
comunicação social será, sem dúvida a maior oposição a uma negociação entre a
esquerda.
Do caso Sócrates aos ataques furiosos sobre o programa
Socialista, passando pelo apoio à esquerda do PS, os truques da imprensa
tiveram efeitos negativos durante a campanha, a democracia foi limitada por
capas de jornais e opiniões sucessivas. As redacções serviram de sedes
partidárias à Coligação, os jornalistas distribuíam propaganda em versão noticia
e opinião, escrita e falada. A imprensa entrou nas eleições não em modo idóneo,
foram ao limite da tendenciosidade da linha política da Coligação. Perderam, e não por
“poucochinho”.
Com um possível governo PS suportado por a Esquerda, prepara-se
o maior raíde de notícias. Ataque cerrado contra o Largo do Rato, contra os Ministros,
e contra os partidos da esquerda. A imprensa vai minar o terreno entre o PS,
Bloco e PCP. Está em curso um PREJC (processo revolucionário jornalístico em
curso). As redacções deixam de ser sedes da PàF e tornam-se o seu “braço armado”.
As armas são notícias, as letras balas, e vão atingir até próximo executivo
cair. A imprensa prepara-se para o maior ataque a um governo em democracia,
eleito de forma democrática, e com toda a legitimidade de governar, e não vai
baixar enquanto não conseguir derrubar.