Banca, a força de intervencionar
O sistema financeiro português está “doente”, e não pode
continuar o tratamento com o dinheiro dos contribuintes, que tem servido como
medicamento para os sucessivos Bancos falidos. A Troika, que tinha chegado ao
aeroporto da Portela com o objectivo de “curar” a doença do país, incluindo a
Banca privada, atacou os salários, o mercado de trabalho, o Estado social, e
arrastou o país para um cenário macroeconómico pior que o que tinha encontrado.
No entanto o sistema bancário continuou “como nada se passa-se”, ignorando os
sinais dos vários Bancos semi-falidos.
O Governo de Passos e Portas também ignorou o
sistema financeiro, não tratou o problema a sério, a supervisão limitou-se,
desde Victor Constâncio, a observar o caos que se foi gerando nos Bancos
privados. O lamaçal é o contribuinte que paga, com os salários cortados, com o
SNS deteriorado e a Educação a funcionar limitada.
Os acontecimentos negativos
no sistema bancário não são novidade neste país. Durante o período de “guerrilha
interna” no BCP, foram descobertos problemas que fizeram cair o maior banco
privado na bolsa. Até hoje o BCP continua a não conseguir recuperar a má imagem
que Jardim Gonçalves deixou, e o problema financeiro que alimentou. Este caso
não só prejudicou o Millennium, que cedeu o seu lugar de principal Banco
privado aos Espirito Santo, como demonstrou que os Bancos escondiam muito “lixo
por baixo do tapete”.
Com o rebentar da crise mundial, o BPN e o BPP revelaram que
a falha na supervisão. Os dois bancos foram vítimas de má gestão nas "barbas" do Banco de Portugal, que não cumpriu a função para o qual está mandatado. O
governo do PS nacionaliza o BPN e entrega o país nas mãos de uma das maiores
crises financeiras que atravessou. Mais tarde, o BPN acabaria por ser vendido
ao BIC por o valor irrisório de dois milhões de euros, quando o Estado, que
assumiu os prejuízos, injetou milhares de Euros no Banco.
Estes dois Bancos seriam a antecâmara para a queda ainda
maior, o colapso do BES, que assegurou durante muito tempo o grupo da família
Espírito Santo, não resistindo a queda da Holding, Rio Forte, arrastando
consigo empresas como a PT, deixando um conjunto de lesados. Mais uma vez a
Supervisão desapareceu, e um banco é intervencionado pelo Estado, ou seja,
pelos contribuintes, ainda não conhecemos, com transparência, qual será a
verdadeira dimensão do problema BES, após uma resolução que não agradou.
Agora foi a vez do Banif, que cai sem que o Banco de
Portugal tenha tido alguma cautela após os primeiros sinais. Os contribuintes
são chamados, mais uma vez, a
intervencionar mais um banco com cerca de 3 mil milhões de euros, enquanto é
vendido por apenas 150 milhões de euros. Com este colapso, Carlos Costa empurra
para o anterior governo, e o anterior governo, pela voz da sua ex ministra das
finanças, acusa falhas no Banco de Portugal. Os produtos tóxicos, como sempre, ficam
com o Estado, os privados, como sempre, ficam com o lucrativo negócio bancário
limpo, neste caso, o Santander Totta.
O Banif não será o ultimo a poder dar problemas, o Montepio
apresentou algumas “dores” nas sua actividade bancária, que tem passado
despercebido, mas já é alvo de guerras internas. Se a supervisão olhar da mesma
forma para o Montepio, como olhou para os quatro Bancos colapsados, julgo que
vamos ter mais um percalço no sistema financeiro.
O sistema financeiro
português apresenta a cada banco, milhares de milhões em buracos financeiros deixados ao acaso, que depois o contribuinte
paga, muito por culpa de gestões danosas. A Caixa Geral de Depósitos assegurou grande
parte do financiamento público a essas “crateras” financeiras, o que levou ao seu
prejuízo. Os accionistas, parte culpada do problema (são eles que escolhem, e
asseguram, as má gestões) “fogem” para outros lados mais lucrativos, e os
obrigacionistas assumem-se lesados,
O caso Banif não teve a melhor resolução, mas também não foi
a mais danosa, foi a que deu para fazer a quinze dias da sua liquidação, que
seria a solução mais gravosa. A situação do Novo Banco, que ainda não é o transparente
o suficiente para respirarmos de alívio quanto a uma intervenção feita com
dinheiros públicos, pode ser ainda mais grave. A supervisão contínua impune ao
assunto, sendo muitas vezes a CMVM (como no caso do Banif) a assegurar que as
proporções em Bolsa não sejam mais danosas.
Podemos estar em frente a um buraco gigantesco no sistema
financeiro, que tem sido tapado com a deterioração do Serviço Nacional de Saúde,
e com o orçamento da Educação. Decerto que o convite é para uma saúde mais
pobre, uma educação mais miserável, e um sistema financeiro mais esburacado. O
contribuinte, por mais que a ganancia deseja, não pode continuar a assegurar os
problemas do sistema financeiro.