domingo, 27 de dezembro de 2015

Banca, a força de intervencionar




   O sistema financeiro português está “doente”, e não pode continuar o tratamento com o dinheiro dos contribuintes, que tem servido como medicamento para os sucessivos Bancos falidos. A Troika, que tinha chegado ao aeroporto da Portela com o objectivo de “curar” a doença do país, incluindo a Banca privada, atacou os salários, o mercado de trabalho, o Estado social, e arrastou o país para um cenário macroeconómico pior que o que tinha encontrado. No entanto o sistema bancário continuou “como nada se passa-se”, ignorando os sinais dos vários Bancos semi-falidos.
   O Governo de Passos e Portas também ignorou o sistema financeiro, não tratou o problema a sério, a supervisão limitou-se, desde Victor Constâncio, a observar o caos que se foi gerando nos Bancos privados. O lamaçal é o contribuinte que paga, com os salários cortados, com o SNS deteriorado e a Educação a funcionar limitada.
   Os acontecimentos negativos no sistema bancário não são novidade neste país. Durante o período de “guerrilha interna” no BCP, foram descobertos problemas que fizeram cair o maior banco privado na bolsa. Até hoje o BCP continua a não conseguir recuperar a má imagem que Jardim Gonçalves deixou, e o problema financeiro que alimentou. Este caso não só prejudicou o Millennium, que cedeu o seu lugar de principal Banco privado aos Espirito Santo, como demonstrou que os Bancos escondiam muito “lixo por baixo do tapete”.
   Com o rebentar da crise mundial, o BPN e o BPP revelaram que a falha na supervisão. Os dois bancos foram vítimas de má gestão nas "barbas" do  Banco de Portugal, que não cumpriu a função para o qual está mandatado. O governo do PS nacionaliza o BPN e entrega o país nas mãos de uma das maiores crises financeiras que atravessou. Mais tarde, o BPN acabaria por ser vendido ao BIC por o valor irrisório de dois milhões de euros, quando o Estado, que assumiu os prejuízos, injetou milhares de Euros no Banco.
   Estes dois Bancos seriam a antecâmara para a queda ainda maior, o colapso do BES, que assegurou durante muito tempo o grupo da família Espírito Santo, não resistindo a queda da Holding, Rio Forte, arrastando consigo empresas como a PT, deixando um conjunto de lesados. Mais uma vez a Supervisão desapareceu, e um banco é intervencionado pelo Estado, ou seja, pelos contribuintes, ainda não conhecemos, com transparência, qual será a verdadeira dimensão do problema BES, após uma resolução que não agradou.
   Agora foi a vez do Banif, que cai sem que o Banco de Portugal tenha tido alguma cautela após os primeiros sinais. Os contribuintes são chamados, mais uma vez,  a intervencionar mais um banco com cerca de 3 mil milhões de euros, enquanto é vendido por apenas 150 milhões de euros. Com este colapso, Carlos Costa empurra para o anterior governo, e o anterior governo, pela voz da sua ex ministra das finanças, acusa falhas no Banco de Portugal. Os produtos tóxicos, como sempre, ficam com o Estado, os privados, como sempre, ficam com o lucrativo negócio bancário limpo, neste caso, o Santander Totta.
O Banif não será o ultimo a poder dar problemas, o Montepio apresentou algumas “dores” nas sua actividade bancária, que tem passado despercebido, mas já é alvo de guerras internas. Se a supervisão olhar da mesma forma para o Montepio, como olhou para os quatro Bancos colapsados, julgo que vamos ter mais um percalço no sistema financeiro.
    O sistema financeiro português apresenta a cada banco, milhares de milhões em buracos financeiros  deixados ao acaso, que depois o contribuinte paga, muito por culpa de gestões danosas. A Caixa Geral de Depósitos assegurou grande parte do financiamento público a essas “crateras” financeiras, o que levou ao seu prejuízo. Os accionistas, parte culpada do problema (são eles que escolhem, e asseguram, as má gestões) “fogem” para outros lados mais lucrativos, e os obrigacionistas assumem-se lesados,
   O caso Banif não teve a melhor resolução, mas também não foi a mais danosa, foi a que deu para fazer a quinze dias da sua liquidação, que seria a solução mais gravosa. A situação do Novo Banco, que ainda não é o transparente o suficiente para respirarmos de alívio quanto a uma intervenção feita com dinheiros públicos, pode ser ainda mais grave. A supervisão contínua impune ao assunto, sendo muitas vezes a CMVM (como no caso do Banif) a assegurar que as proporções em Bolsa não sejam mais danosas.
     Podemos estar em frente a um buraco gigantesco no sistema financeiro, que tem sido tapado com a deterioração do Serviço Nacional de Saúde, e com o orçamento da Educação. Decerto que o convite é para uma saúde mais pobre, uma educação mais miserável, e um sistema financeiro mais esburacado. O contribuinte, por mais que a ganancia deseja, não pode continuar a assegurar os problemas do sistema financeiro.