quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Uma visão politica sensata






  O Partido Socialista conseguiu o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, conseguindo formar governo. As diferenças entre as quatro forças políticas são conhecidas, não fazem questão de as ignorar em nome estabilidade e consenso politico.
  No entanto essas diferenças, em algumas medidas, acentuam-se de forma mais ou menos rígida, como no caso do BANIF e do Novo Banco, o que fragiliza a coligação parlamentar perante a oposição, deixando a nu a existência de pontos fracos que podem ser aproveitados pela direita.
   Apesar desses pontos fracos serem uma vantagem, a direita também se tenta encontrar após um período de fusão entre o PSD e o PP. Ambos os partidos têm de se ajustar a uma nova realidade, e procurar captar novamente o seu eleitorado, deixando de parte a “ressaca” de terem perdido o poder, quando julgaram que ao ficarem à frente nas eleições teriam o PS na “algibeira”.
   A direita está demasiado confusa. O PP, sucumbido pelo PSD durante quatro anos, viu o seu líder carismático sair sem glória. Paulo Portas abandona a presidência do partido após 16 anos, e procura agora um líder que consiga manter o CDS no expecto politico, e vivo, depois de ter sido absorvido pelos sociais-democratas durante tanto tempo.
Os quatro anos de governação em coligação levaram o CDS a perder a sua identidade para o PSD. Paulo Portas sabe disso, sabe que falhou quanto à defesa daqueles que seriam o maior eleitorado do CDS, os reformados. No entanto, o CDS absteve-se da sua função como partido, garantir que as suas promessas fossem cumpridas, o que não aconteceu.
  O PSD é agora, sem dúvida, o único partido à direita. Sob a presidência de Passos Coelho, o PSD deslocou-se do centro politico, onde sempre esteve, abandonou a Social-democracia vigente, e passou para a direita do Neoliberalismo, para lá da direita conservadora dos democratas cristãos, o CDS. Passos Coelho, mesmo assim, consegue agora captar o eleitorado que era do CDS.
 Passos Coelho que teve no seu legado governativo uma série de vitórias morais, e de domínio político. Dominou Paulo Portas, dominou a coligação e agora domina, na totalidade, a oposição, sem que o CDS consiga-se levantar. Mesmo no seio do PSD, o domínio da ala mais à direita é visível. Passos Coelho mantém a máquina do partido do seu lado, e não tem contestação na imprensa, que apesar de lhe ser austera (zinha) de vez em quando, está assumidamente do seu lado, e do lado da máquina dos sociais-democratas.
  À esquerda as coisas estão serenas. Mas a história e motivos da divisão à esquerda são insanáveis. A desconfiança e o eleitorado são os motivos pelos quais a esquerda se divide mais. O aparecimento de novas forças políticas obrigou a repensar um plano estratégico novo, para manter a força do eleitorado.
   Com esta coligação, mesmo que apenas parlamentar, demonstrou que as divisões podem ser sanáveis desde que o princípio de todos os partidos seja a compreensão e a vontade de melhorar a vida das pessoas, e não os motivos eleitoralistas que governam os partidos.
  A CDU é aquele, ao contrário que parecia, mais desconfiado face aos parceiros de coligação. Apesar de ter um eleitorado fixo, a CDU passou para trás do Bloco, o que não animou as hostes Comunistas. Mas o PCP é um partido que pode puxar os seus galões. Além de um partido com uma força autárquica muito superior à do BE, o PCP também conta com o seu aparelho sindical, mesmo que esteja em baixo de forma.
O Bloco, que conseguiu um resultado histórico, olha para o eleitorado à esquerda do PS como sendo o “seu” eleitorado, que conquistou nas últimas eleições. Apesar de mérito de Catarina Martins, os factores externos ao partido também foram favoráveis ao resultado.
Foi o BE, talvez, o único vencedor da noite de quatro de Outubro. O PS saiu derrotado, quando tudo apontava ser o vencedor natural após quatro anos de (des) governação da direita. A coligação, que muitos apontam como vencedora, agregou duas forças politica, que quatro anos antes tinham chegado à maioria, mas ficaram a quatro pontos percentuais do PS. A CDU cai para quinto partido, quando foi sempre a terceira força politica mais representada no parlamento.  
  As divisões à esquerda favorecem mais o PCP do que o Bloco, quando falamos de eleitorado. O PCP tem poucas forças políticas para onde o seu eleitorado pode fugir. Os partidos da génese comunista, como o PCTP-MRPP e o 4Pous, não têm força suficiente, e divergem no essencial do que o eleitor comunista quer.
No que toca ao Bloco, as forças politicas têm maior capacidade de absorção do seu eleitorado. O LIVRE, que foi inúmeras vezes “mal tratado” pela imprensa, pode captar os militantes que assumidamente pedem uma governação à esquerda com o PS. O LIVRE, apesar do resultado ter sido pouco expressivo, é o que pode concentrar mais os votos da esquerda do PS, podendo ainda contar com a captação do eleitorado da abstenção. O Livre, foi por diversas vezes, a fonte de inspiração do Bloco, com um pequeno à parte, não tinha uma imprensa tão forte como o Bloco teve.
  O PS, que supostamente era o grande derrotado do dia quatro, sai como vencedor, por cima da coligação, que se inspira nos piores momentos da história da humanidade e da história do país para acusar o PS de “golpada”.
A coligação que se exaltou durante dias, que quis governar não tendo maioria, e a quem o nervosismo impediu um discernimento sério sobre a realidade à sua volta.
António Costa transporta o partido para a sua génese de esquerda, mantendo o eleitorado de centro (assim dizem as sondagens se acreditarmos), e poderá sair favorecido numa derrapagem dos partidos da coligação parlamentar de esquerda. António Costa pode, sem querer, ter uma maioria absoluta e reduzir BE e PCP no seu eleitorado caso exista novas eleições, e caso essas eleições sejam provocadas por um dos parceiros da coligação. Costa ainda pode contar com o eleitorado da direita, se o CDS e o PSD estiveram dentro de uma política eleitoralista, se colocarem o partido à frente do país, e se o PSD não desgrudar de uma direita que o fez perder 12% dos votos obtidos em 2011.

   Apesar de o tom sereno com que o país se depara neste momento, creio que o clima politico/partidário vai estar quente durante esta legislatura, e a direita não via deixar escapar os erros da esquerda, nem a esquerda vai querer novamente a direita no poder. Com isto tudo, o Partido Socialista vai tendo margem de manobra suficiente para poder cumprir o seu programa, sem desculpas que foram as circunstancias eleitorais que não o permitiram.