Uma atenção, Educação não é pressão!
Senta-te! Coloca o cartão de cidadão em cima da secretária e aguarda, de forma serena, que dê um segundo toque. Aguarda, com toda a pressão, que chegue a tua folha, que saia a matéria que tu estudas-te, que termine o exame e quando acabares, espera até o primeiro toque, se entretanto acabares depois do primeiro toque? Espera mais 30 minutos para o segundo. Estás proibido de falar e de sair da sala de aula, só te podes mexer se não fizeres barulho. Não podes sentir mal.
Bem-vindo aos exames nacionais, ao stress e
a pressão que a que estão submetidos os alunos, ao folclore desproporcional que
rege todo o período dos exames e ansiedade até à saída das notas.
Não vou discutir a sua necessidade, os
exames são elementos essenciais para uma avaliação mais a fundo sobre o que foi
a aprendizagem do aluno. É necessário reconhecer o aluno sobre o conhecimento
obtido, em determinadas matérias, durante o período do ensino elementar. Vou
ser crítico é a todo ritual praticado antes e durante os exames. São poucos
minutos, mas onde os alunos estão expostos a uma pressão descontrolável. Será
isso necessário para avaliar um aluno? Óbvio que não!
Quando falamos
nos alunos dos exames nacionais, falamos de adultos. São jovens que terminam
uma longa jornada de 11 a 12 anos de aprendizagem continua e ininterrupta. Apesar
da sua idade, o ambiente envolvente, no que toca aos exames, é de uma pressão
agressiva. Não por o exame, são jovens habituados aos exames contínuos, anualmente,
é todo o aparato que isola o aluno num stress agressivo. Não é o tradicional
chegar, sentar, fazer, entregar e sair, utilizando a sua memória fresca, sem
que algo atrapalhe, é o chegar e esperar sórdidos minutos, ter todo um
espalhafato para fazer um exame. É o desconhecimento total da matéria, é o
frenesim que antecipa e fecha o período.
Se os exames fazem mossa num adulto, imaginemos
a pressão em crianças que tem apenas quatro anos de uma aprendizagem ténue? Que
exigência é esta que atira crianças para a pressão e stress dos exames? Será
isso necessário para a evolução educativa? É óbvio que não, apenas antecipa uma
série de problemas nervosos a crianças que nem aos dois dígitos de idade
chegaram.
O progresso educativo deve se estabelecer
num percurso escola estável, com ofertas educativas adequadas ao que são os
alunos de determinado estabelecimento. Não podemos continuar a ajustar o ensino
à prática da “extrema exigência”, que apenas se baseia num determinado conjunto
de testes e exames, que enriquecem o aluno. É preciso um ensino diversificado
que origine um conhecimento sólido nas diversas áreas, flexível, e que ofereça
matérias escolares, sociais e económicas, e não o despejo de matéria entre os
testes, que limite o conhecimento ao temporário.
É necessário é criar hábitos que elevem o
conhecimento, como a leitura e a cultura do estudo. Reunir com os professores,
e cada escola ter uma autonomia de ensino dentro das diversas matérias
essenciais ao conhecimento. Dar ao aluno um leque maior de áreas em que se
possa encaixar melhor. Depois disso tudo, que venham os exames, mas que se vá o
aparato desnecessário.
Apesar de a direita apontar o fim dos exames
da quarta classe ser uma medida ideológica, e não uma medida de bom senso,
creio que a opção ideológica é o facto de o Ensino estar, ainda, com o cheiro
pestilento ao tempo da “velha senhora”, que o ex Ministro da Educação, Nuno
Crato, se lembrou de retirar a lavanda que ainda atenuava o cheiro, e abriu a
“exigência” despropositada que o ensino não necessitava. Nunca esteve em causa
a exigência, ou um forte combate ao facilitismo, foi apenas um clique ideológico,
e um saudosismo dos exames, que em tempos, dividiam a crianças pela classe
social. Não porque os mais pobres não tivessem capacidade de lá chegar, mas sim
porque dada a pobreza, não conseguiam lá chegar.
O Ensino precisa de uma reforma urgente, não
de paternalismos de exigência, não de cheiro a mofo ou a humidade de tempos em
que a educação era destinada apenas a quem o regime favorecia. A necessidade é
uma Educação melhor, mais acessível, e menos folclórica.